segunda-feira, 19 de março de 2012

Juliet

Era uma tarde fria e chuvosa de agosto. 
Juliet caminhava pela rua deserta. 

Estava descalça e sozinha.

Havia saído de casa naquela manhã disposta a fazer daquele o melhor dia de sua vida. Afinal, era com esse propósito que ela se levantava da cama todos os dias. 
Mas a vida tem dessas coisas. Gosta de surpreender. 

Juliet não tinha a vida dos sonhos de uma mulher.Estava solteira e sozinha há muito tempo. Ainda morava com os pais, mas o clima em casa só piorava a cada dia que passava. 
Ela queria muito sair dali. Queria ser livre. Queria poder tomar suas próprias decisões, queria não precisar dar satisfações de coisas tolas. Mas, ainda assim, suportava tudo. Ela ainda não tinha condições de sair em definitivo de casa e também não tinha coragem de deixar seus pais sozinhos.
Eles precisavam muito dela e ela sabia disso.

A mãe de Juliet estava desgastada. Trabalhava em três lugares diferentes, todos eles com o que melhor amiga de Juliet costumava chamar de energias negativas muito pesadas. Juliet não costumava acreditar neste tipo de história. Era meio descrente com relação ao universo, mas nos últimos tempos ela tinha visto e vivenciado tantas situações cientificamente inexplicáveis que estava começando a ponderar a ideia de sua melhor amiga.

O pai de Juliet não tinha mais paciência para suportar algumas atitudes da mãe dela. É bem verdade que a mãe de Juliet andava muito diferente, mas ele também estava. Talvez os três dentro daquela casa estivessem. 

E Juliet estava começando a se preocupar seriamente com isso.

A mãe chegava em casa todos os dias tensa, nervosa, preocupada demais com coisas que ela jamais se importara antes. A comida não tinha mais o mesmo gosto, as emoções estavam à flor da pele, a intolerância predominava na maior parte das vezes. Ela agora só vivia a resmungar pelos cantos, a alegria deu lugar, em sua grande parte, à amargura. 
O pai ainda preservava um pouco mais seu lado amável, mas devido aos constantes conflitos ele havia se tornado alguém ríspido, grosso e extremamente desconfiado.
Juliet não suportava mais tudo aquilo. Chegou a pensar que, talvez, eles sempre tivessem sido assim e só agora ela era capaz de enxergar. Mas, ao se recordar de alguns fatos, ela pôde concluir que isso não era verdade.

Martha, a melhor amiga, tinha ido visitar Juliet em casa no dia anterior. Ao passar pela porta ela se sentiu mal. Juliet foi buscar um copo com água para dar a Martha, mas antes que ela pudesse retornar à sala, a ouviu dizer :

- Ju, isso aqui está pesado demais. Nada aqui está mais em harmonia. Você não está bem, seus pais não estão bem, esta casa não está bem. E, não se iluda, pois quando parecer que tudo finalmente se foi, é apenas de uma pequena parte que estamos falando. 

Martha tinha esses relances vez ou outra. Juliet já havia se acostumado com aquilo. Mas, naquela tarde, enquanto andava pela rua completamente deserta, Juliet começava a ligar os fatos.

Cerca de uma hora e meia depois de sair de casa naquela manhã, Juliet recebeu uma ligação de sua mãe, dizendo que alguém havia falecido repentinamente e, a princípio, sem nenhuma explicação. Martha não gostava da pessoa. Dizia que ela era envolta por algo extremamente escuro e que isso fazia mal a ela. Apesar de não ter absolutamente nada contra a pessoa, Juliet não quis ir ao enterro. Martha não iria e Juliet detestava cemitérios. Para não ter que ir sozinha, ela preferiu prestar suas condolências à família de outra maneira.

Ao chegar ao trabalho, Juliet sentiu um terrível mal estar. A ponto de levantar de sua mesa correndo para ir ao banheiro vomitar. 
Não havia ingerido nada estranho ou diferente naquela manhã e muito menos no dia anterior, que justificasse aquilo. Entretanto, já estava acostumada. Uma das coisas que mudaram em Juliet com o tempo foi a sua saúde. 

Ela passava mal repentinamente, sem explicação e todos os seus exames davam sempre resultados excelentes. Cientificamente ela estava com a saúde perfeita. 
Procurou alguns tratamentos com psicólogos e psiquiatras, pensando ser algo relacionado a sistema nervoso. Mas nada surtiu efeito. 
Ela simplesmente se acostumou.

Mas, naquele momento, as palavras de Martha retornaram à cabeça de Juliet como num megafone. Ela, então, trabalhou somente meio expediente e pediu para sair, alegando não estar em condições físicas de trabalhar. 

Agora ela estava ali, vagando sem rumo, sentindo as pedrinhas do asfalto furarem levemente seus pés e a chuva encharcando-a por inteiro. Por alguma razão ela não sentia frio, mas sabia que precisaria se explicar ao chegar em casa. 

Tudo estava confuso demais. Será que alguém desejava tanto o mal a ela e à sua família a ponto de fazer com que ela ficasse doente e os pais estivessem à beira de um colapso? Será que era realmente possível alguém desejar tanto o mal a uma pessoa a ponto de tudo retornar para si mesmo e causar a sua morte? Será que a frase de Martha no dia anterior se referia àquela morte e ainda, queria dizer que aquela não era a única pessoa com quem Juliet deveria se preocupar? 

Ela saiu da chuva. Pegou um ônibus. Voltou para casa. Encontrou-se completamente sozinha, ninguém havia chegado. Era o momento perfeito. 

Juliet se entregou às suas lágrimas. Não sabia o que fazer. Não queria de forma alguma envolver Martha em tudo aquilo, mas necessitava urgentemente de um alguém para fazer o papel de um anjo. Sentia-se desprotegida, desamparada, perdida, sem forças, sem ânimo e sem motivação alguma para tentar recomeçar. 

Sentiu-se mal novamente. Correu para o banheiro. Queria mais do que tudo que aquilo que expelia fosse o que estava sentindo. Mas não era. 
Tomou um banho e foi se deitar.


Talvez seja apenas um sonho ruim - pensou.

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